No lançamento da seção CURTAS, trazemos as palavras de Karima Mayda, Instrutora de Sama (Giro Dervixe) da Ordem Naqshbandi de Curitiba. Ela nos relata como sente e percebe o Sama. Uma vez por mês, num domingo, às 18hs, a Karima ajuda a ensinar o Sama ao público que se interessa por essa arte da cultura sufi. A Ordem Naqhsbandi de Curitiba oferece esta atividade, gratuitamente, a todas as pessoas, e já participou de diversos eventos, na cidade, apresentando o Sama aos curitibanos e curitibanas.
Rodopiamos como se o vento que move as eras de lugar de tempos em tempos movesse também toda e qualquer razão que destinada a querer o que não podemos dar está sempre a nossa espreita
Nesse báratro voraz a mente inquieta pousa num instante de não sobriedade, nele ela se dobra qual as retas que inexistem pois, se olharmos sua contínua expressão são curvas logo-rítmicas cuja forma é a mais corrente no mundo natural. Embriões, cornos, remoinhos, furacões e nebulosas – mesmo o passo do dervixe girador. Todos revelam o desenho do crescimento sem entraves e equilibrista formado pela energia quando abandonada a si mesma. Entre um giro e outro o mesmo vento faz morada edificando uma existência não egóica. Já não há mais palavras. Nada detém o movimento das galáxias. Todas as coisas estão vivas sem tempo e sem espaço e, perambulam tão nós que se fundem no perpétuo –serem-.
Um único pensamento recaindo torto e teimoso nos tiraria da dança, nos quebrando da consoante direção do rodopio, findando o expandir-se para o exterior ao mesmo passo que aumenta o estreitar-se para o interior. Todo rodopio dessa dança é uma inscrição na eternidade que combina opostos em um só gesto. Quem vê a ciranda do coração, mas não ouve o silêncio acha que estamos dançando torpes. Estamos, porém uma vitalidade jamais imaginada intempestiva irrompe nossas certezas, o grito escandaloso do silêncio é um gemido profundo da alma que faz as todas as videiras se enrolarem às hastes e ramos, o fruto emergir da flor serpenteada de pétalas, as estrelas eclodirem riscando céu a fora no desenho do infinito. Assim, atingimos o esplendor e a decadência, a acumulação e dissolução, a expansão e a contração, a oferta e a recepção… a glória torrencial, uma voluptuosidade deslumbrantemente angélica.
O amor nos fere e às células de nosso corpo vestem fissuras tais quais erupções vulcânicas na crosta da Terra. Nada é capaz de parar a espontaneidade faiscante desse contínuo incandescente logarítmico. Há tantos tesouros maiores do que tudo que podemos conceber aguardando por nós em um único giro.
ÚNICO. Hélices de ADN, caminhos labirínticos equiângulares intrusos de real beleza, ou seja, a vida graciosa toda em todos os tempos e dimensões que se quer podemos imaginar, em circunvoluções perpétuas, um prado eterno docemente perfumado pelo orvalho das estações celestiais. Se soubéssemos dessa dádiva misericordiosa ficaríamos abismados pela simplicidade da iluminação. Ela está presente para todos como as frondes e as flores desenrolando-se para a luz, aqui, agora, nesse momento. Essa fronteira não dual é que mata a sede de nossa alma ascendendo a um raio maior nossa existência. É o angélico desabrochar da felicidade dentro de nosso coração espiritual.
Assim sendo, todos os campos verdes germinam de uma só vez em nossa coluna estendendo e estabelecendo uma estação celestial por cada vértebra quebrando todos os desejos, brotando delírio de uma vida por onde o eu sequer alude guarnição. Poentes, nascente giram nessa margem profunda e rasa. Formigas caminham em marcha. A poeira, o poeta e a abelha. Cada átomo que já existiu, existe, aqueles que existirão, e o que poderiam existir, mas não sonharam ainda. Todos. Inebriados da lucidez do nascer e findar dos mundos.
A flauta, que toca para essa dança ela… nos fala desses milagres tão profundamente que as nuvens e rios cessam os seus movimentos, toda criação escuta a melodia de essência elementar e misteriosa. Uma chuva de meteoros, por onde a vertigem que nos assola tenta escapar nosso passo, é afugentada ao som da Ney.
Fuja para longe! Abandone tudo! Ó Misericordiador permita que às sincronicidades comuniquem sobre o incomunicável até que nem mesmo essa escuta seja necessária.
Nesse mesmo rodopio somos tragados como quando respiramos todo ar até que acabe para que enfim saibamos que ele sequer existiu. Um único fôlego suprime o leviano em nós. Nossos pés não querem pisar em mais nada além de rochas de incompletude e incertezas, pois lapidados por elas somos agora errantes cujo os passos sangram a seiva da servidão em plena e pura esperança.
E quando o caminho desaparecer e os passos não forem mais necessários que possamos tocar os pés no chão da eternidade onde miríades e miragens já não imploram direções. Nesse horizonte, aguardamos em Sama domingo na Ordem Naqshbandi Haqqani em Curitiba-Pr. Sufismo é a purificação do coração. 18:00hs. Rua General Carneiro, 1148.
Instrutora Karima Mayda.