por Rafael Arrais.
“Eu servi como discípulo de uma das amantes de Deus, uma gnóstica, uma senhora de Sevilha, Fatimah bint Ibn al-Muthanna de Córdoba [Fátima de Córdoba]. Servi-a por vários anos, ela já com mais de noventa e cinco anos de idade… Ela costumava tocar tamborim e demonstrava ter grande prazer nisso. Quando falei com ela sobre o assunto, ela me respondeu: ‘Eu me regozijo Nele, que se voltou para baixo e me fez um de Seus Amigos (Santos), usando-me para Seus próprios propósitos. Quem sou eu para que Ele me escolha entre os homens? Ele tem ciúmes de mim, pois sempre que me volto para algo que não seja Ele, descuidada, Ele me envia alguma aflição relacionada a tal coisa’… Com minhas próprias mãos eu construí para ela uma cabana de juncos tão alta quanto ela, onde ela viveu até morrer. Ela costumava me dizer: ‘Eu sou sua mãe espiritual e o abraço de sua mãe terrena’. Quando minha mãe veio visitá-la, Fattimah disse para ela: ‘Ó luz, este é meu filho e ele é seu pai, então trate-o bem e não desgoste dele’.”
Ibn ‘Arabî, In: Sufis of Andalusia, tr. R.W.J. Austin. NY: Routledge, 2008, pp. 25-26; trad. Rafael Arrais.
Imagem; quadro de Montserrat Gudiol – pinterest.com