por Mariam, São Paulo.
Durante a turnê de Shaykh Mehmet Nazim em São Paulo, pude por dois dias ajudar com a tradução, em duas ocasiões distintas: no momento de perguntas e respostas e durante as entrevistas pessoais quando solicitavam os murids. Foi um verdadeiro privilégio poder auxiliar nisso para que todos os irmãos e irmãs não falantes do inglês pudessem compreender as mensagens do Shaykh, e se comunicar com ele, também por poder nesses momentos estar em sua presença aprendendo intensamente não por palavras, mas de forma sútil que não sei bem explicar. Esse texto tem finalidade de traduzir em palavras a experiência do encontro e que certamente muitos murids puderam sentir.
Feliz, sem cerimônias, espontâneo, direto, muito ponderado, interessado e gentil às aflições de quem o trazia questões, de uma tranquilidade profunda, sorriso no rosto – assim poderia ser descrito.
Durante as entrevistas, percebi sua natureza prática, seu entendimento sobre os altos e baixos da vida como ordem natural das coisas, desígnios de Allah. Sobre não se prender ao mal não dar a ele ênfase: “move on” – siga em frente. Suas orientações se voltavam sobre tratar com leveza as dificuldades do dia-a-dia. Também durante as entrevistas, terminava com uma mensagem positiva e o ambiente se anuviava e quem trazia a questão ficava aliviado. Expôs compreender as dificuldades de nossa sociedade ocidental e mesmo as específicas do Brasil, como por exemplo, a distância entre pessoas geograficamente em nossa cidade e o problema do transporte, sobre a dificuldades das irmãs quanto ao hijab, aconselhou as crianças e os adultos sobre a importância de que se estar ao ar livre e em meio a natureza para quem mora em cidades, sobre a necessidade de atrair a comunidade fazendo eventos que a reúnam a todos e a importância da vida comunitária.
Observei sua disciplina com a saúde, seu habito do chá, sobre almoçar e jantar e nada de beliscar, de não consumir industrializados ou usar açúcar e não tomar chá de saquinhos. Como havia observado e perguntei diretamente, o Shaykh relatou a visita a uma fábrica de uma grande empresa de chá internacional, falando sobre como os funcionários varriam as folhas de chá do chão para reutilizá-las. Nas conversas com alguns murids, transparecia seu interesse e vasto conhecimento pela homeopatia. Quando em certos momentos lhe serviram chá de saquinho não reclamou ou pediu outro, mas também não bebeu e até nisso me pareceu haver uma lição sobre se respeitar quanto algo que entende, e ao mesmo tempo que não reclamou ou exigiu algo, entendendo a situação. Pareceu um sinal de humildade, mesmo gentileza para quem servia e teve trabalho de preparar ou quem sabe um exercício para o ego?
Fez muitos comentários sobre o Brasil demonstrando ter estudado e perguntava a muitas pessoas informações sobre aspectos diversos do Brasil, como se coletando muitas percepções e comparando com informações que já tinha. Demonstrou interesse na origem de quem com ele passou entrevista e fazia pergunta aos murids e depois adivinhava e acertava até se um e outro vinha do norte ou do sul da Itália!
Observei também sua sensibilidade com as pessoas francas e espontâneas e sua postura com as irmãs, quando mudou de lugar na sessão de perguntas e respostas para as irmãs pudessem estar a frente, para ouvirem e perguntarem melhor; também ao chamar para o bayat para que as irmãs estivessem mais próximas, a frente – gestos de muita gentileza e adab. Tive a perceção, durante uma entrevista, sobre quando foi perguntado por uma irmã sobre a solidão, ocasião no qual recomendou o livro “Lore of Light – Lives of The Prophets and Messengers According To Traditional Islamic Sources” sobre a vida dos profetas de autoria de sua avó Hajjah Amina Adil, elogiando a obra e falando dela com carinho; pareceu um link da sua atitude com as irmãs, como as ouvia, sua atenção e deu impressão da influência de sua avó na sua compreensão sobre a capacidade das mulheres.
Houve uma moça que fez perguntas com curiosidades sobre os sonhos e repetidas vezes ele parecia se divertir com a franqueza e curiosidade espontânea da jovem, e depois em um segundo momento onde as pessoas podiam pedir que lhes fossem dado nome, essa mesma moça pediu um nome islâmico e Shaykh perguntou o nome dela e depois lhe revelou que o nome significava “paciência” e ela fez cara de espanto e riu, dando a entender que não possuia essa qualidade. Então, Shaykh deu-lhe o nome de Aisha todos os presentes se divertiram na situação e o salão encheu de riso.
O Irmão Faridudim de Mogi das Cruzes fez perguntas muito interessantes sobre a infância de Shaykh Mehmet e sua convivência com o avô Shaykh Nazim e sobre a transmissão de coração de Shaykh Nazim a Shaykh Mehmet Adil e pudemos conhecer com detalhes e de modo muito próximo e generoso.
Deixou a mensagem final: sejam gentis, sejam bons uns com os outros, sejam felizes e façam os outros felizes. Essa mensagem traduziu seu espiríto e atitude com todos. De modo direto é uma mensagem de união e harmonia para toda a comunidade Naqshbandi no Brasil – a alegria e proximidade que se estabeleceu entre os corações durante esses dias criaram laços de amizade e proximidade certamente fortaleceu nosso grupo.